segunda-feira, 5 de novembro de 2012

As Sete Respostas de Shiva - Parte V



Depois do acontecido, Manish  não quis mais saber de casamento ou de amor.

Dedicou-se totalmente á loja, que cada vez mais prosperava.
Ele então, resolveu que teria de abrir mais uma loja mas com isso precisaria de um sócio.

Mais uma vez, apesar de achar inútil ele pediu a Shiva que lhe indicasse um sócio bom e honesto.

No dia seguinte, chegou á loja, um homem com a roupa cheia de lama , com uma barba enorme e perguntou a Manish:
- O Senhor pretende abrir uma nova loja?

Sim, meu caro amigo, pretendo sim. O senhor gostaria de trabalhar nela?

O homem respondeu:
- Na verdade, gostaria de investir como sócio, mas o dinheiro que trazia foi roubado por assaltantes no caminho. Sou membro da corte real dos Shakyas[1] e desejo ficar nessa cidade...

Diferente de seu pai, Manish olhou o homem com preconceito e disse:
- Meu amigo, não serei seu sócio pois não creio em suas palavras...

O homem simplesmente retirou-se da loja e se foi.

No mesmo dia, foi á loja um dos habitantes mais odiados de Varanasi. Seu nome era Johar.
Ele estava bem vestido e trazia no peito um colar com um pingente de Trishula[2].

Ao ver isso, Manish achou que esse era o sócio que pedira ao Maha Deva, mas esperou ele falar.
Dito e feito.
Johar estava lá pois ouvira que Manish precisava de um sócio. Apesar da má fama de Johar, Manish de pronto aceitou-o como sócio...
Inicialmente, a loja estava prosperando com grandes lucros,
Após alguns meses ela passou a ter prejuízos mas isso era estranho, pois as vendas sempre eram boas.
Manish ficou cismado e passou a vigiar a loja.

Ele viu que Johar ás vezes tirava tecidos da loja e levava para casa.
Foi olhar a contabilidade de um dia onde foram vendidos vinte tecidos e no registro só constavam nove vendas.
Com muita raiva, ele percebeu que seu sócio o roubava e foi falar com ele.
Johar negou e culpou os funcionários, mas Manish era muito inteligente e não “caiu na conversa”.

Manish pegou Johar pelo pescoço e disse:
- Ladrão, suma da minha loja...

Johar foi embora correndo e nunca mais voltou.

O boato de que Johar prometera se vingar de Manish, correu pela cidade, mas ele não temia ameaças.

Como sempre, ele culpou o Maha Deva pelo ocorrido.

O tempo passou e Manish foi ficando cada dia mais triste. 
Sem amigos, amor, e sem seus pais.

Isso o consumiu de tal forma que ele engoliu o orgulho, foi até a caverna que seu pai dizia ser a caverna onde Shiva ficou meditando pela perda de Sati, ajoelhou-se na entrada e fez uma súplica:

- Maha Deva...não sei se o Senhor nunca me ouviu ou não gosta de mim, mas meus pais sempre falaram bem do Senhor...
- Tento ser igual a meus pais mas muitas vezes não sou...
- Tento ser o melhor possível mas muitas vezes sou imperfeito...
- Sinceramente, gostaria de entender o Senhor e gostaria que o Senhor também me entendesse...
- Hoje, quero apenas pedir uma coisa: Que o senhor não me deixe mais ficar só nesse mundo. Ao menos, um verdadeiro amigo o Senhor podia me arranjar...

Passaram-se semanas e nada de um amigo ou amiga aparecer.

Manish já esperava por isso.
Nesse tempo, todos os dias, quando Manish abria a loja, havia na porta, dois filhos de cães. Na verdade, eram duas fêmeas.  Era só abrir as portas que as cadelinhas entravam e corriam para brincar com ele.

De início, ele não gostou, muito mas as cadelas o conquistaram. Logo, ele as levou para casa e elas passaram a ser a família de Manish.

Elas eram muito divertidas. Iam para cima e para baixo, sempre andando uma de cada lado. Com o tempo elas cresceram e viraram duas belas cadelas de grande porte. Eram enormes, estabanadas e viviam derrubando Manish.

O tempo foi passando.

Manish completou vinte e sete anos.
Apesar da companhia das duas inseparáveis cadelas, Manish sempre estava nostálgico, lembrando-se de Chandra.
Agora, ele achava que ela já deveria estar casada e não lembraria-se mais dele...

Mentalmente, Manish pensou pedir ao Maha Deva que soubesse notícias de Chandra, mas não pediu
Ele acreditava que o Maha Deva nunca se importou com ele.

Certo dia, trabalhando na loja, Manish ouviu uma grande festa que estava ocorrendo na rua.
Estranho...
Como não era época de festivais ele foi ver o que era...

Era uma deslumbrante parada real.
Manish viu uma comitiva de guerreiros escoltando três mulheres.
A do meio que era mais velha, era sem dúvidas a mulher mais linda que Manish já vira. Ao lado dela estava duas moças tão belas quanto à mulher e junto a elas muitas crianças.
Havia músicos tocando e alguns homens jogando pétalas de flores ao chão para elas pisarem...

De longe, a mulher mais velha olhou para Manish, a loja, e disse:
- Minhas filhas, vamos comprar tecidos na loja daquele menino.

Manish ao ouvir isso, chamou os funcionários e lhes deu ordem de atenderem bem a nobre mulher.
Ela e as duas jovens entraram na loja enquanto o resto da comitiva ficou lá fora.
Uma das crianças que estava na comitiva entrou também. Ele tinha cabelos vermelhos , olhos verdes e entrou pulando sobre os tecidos.

A nobre mulher apenas disse:
- Meu bebê lindinho, pode brincar...
- Se você quebrar algo eu pago...

Manish as deixou á vontade. Só olhava como eram bela as três mulheres e observava como o menino de cabelos vermelhos era “levado”.

 A nobre senhora disse então:
- Siddhi, minha lindinha, compre tecidos. Quero fazer uma bela roupa para meu bombomzinho...

A jovem respondeu:
- Sim, minha mãe. Pegarei o melhor tecido e juntas faremos a roupa de meu lindo marido.

Enquanto a moça pegava muitos tecidos, a nobre mulher pediu duas cadeiras e disse a Manish que gostaria de conversar com ele.
Ele prontamente buscou a cadeiras e ela começou a falar. Primeiro, elogiou a qualidade dos tecidos. Depois, agradeceu o tratamento que estava recebendo na loja.

Nesse momento, o garoto de cabelos vermelhos pulou no colo dela, ficou olhando para Manish e falou: - Você é um bobão, Manish.

Manish não entendeu porque o menino falou aquilo e como sabia seu nome...

Antes que ele perguntasse, a nobre mulher falou:
- Então... Você é o famoso Manish, filho de Sitara e Ravi. Devotos fiéis de Shiva...
- Bem, ouvi dizer que você é muito forte e próspero, mas não tem amigos nem um amor.

Manish apenas mexeu a cabeça concordando.

A nobre mulher continuou:
- Em uma cidade muito distante daqui, tem uma bela jovem que todos os dias pede aos Devas que o homem que ela ama lembre-se dela e a salve.
- Como você, ela já está perdendo a esperança de um dia ele chegar...

Manish ficou assustado mas nada disse.

Ela então chamou as duas jovens que estavam com ela e apresentou-as a Manish.

Essas são as esposas de meus filhos: Siddhi e Valli. Consequentemente, são minhas filhas. Esse menino “levado” , meu colo é meu filho também...
No passado meu jovem, tive de lutar pelo amor de meu marido e hoje estamos juntos...
- Por que você não vai atrás de sua Chandra?

Nesse momento, Manish começou a tremer.

Ele lembrou-se que os nomes Siddhi e Valli era os nomes das esposas de Ganesha e Skanda e a mulher mais velha sabia muito sobre ele mesmo.

- Seria possível ele estar frente à Maha Devi?

Ainda com esse pensamento, Manish foi interrompido pela nobre mulher que falou:
- Seu pensamento está correto, meu jovem...
- Eu me chamo Parvati. Sou esposa de Maha Deva.

Nesse momento, Manish perdeu a fala e ficou “branco”.

Parvati então disse:
- Ouça bem, meu jovem...
- Vá salvar sua Chandra, pois ela precisa de você...
- Não perca mais tempo...Quando eu e minha comitiva formos embora, parta para a cidade onde ela está e a resgate...

Depois disso, ela deu uma sacola de moedas de ouro a Manish e retirou-se da loja...

Manish ficou parado por um tempo mas logo voltou a si. Fez o preparativos para ir atrás de Chandra.
Deixou as lojas com funcionários e explicou-lhes o que deveriam fazer.

Foi até o estábulo, comprou dois cavalos e foi para a estrada...

Pelo caminho pensava:
- O que será que estava acontecendo com Chandra que fez com que a própria Parvati viesse pedir para salvá-la?

Após dois dias de viagem, Manish chegou a um povoado.




[1] Nos textos budistas, os Sakyas são mencionados como um clã kshatriya.
[2] Trishula (do sânscrito, significa "lança trifurcada") é a arma usada por Shiva desde suas ilustrações mais antigas (período neolítico, 4.000 A.C.) na forma de Pashupati, o "Senhor dos Animais". Shiva, na condição de "renovador" (destrói para construir algo novo), usa a trishula para destruir a ignorância dos homens.) de Shiva.

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