segunda-feira, 29 de outubro de 2012

As Sete Respostas de Shiva - Parte IV


Manish nunca aceitou a morte do pai.

 

Pela segunda vez na vida, sentiu-se abandonado por Shiva.

Manish não foi ás cerimônias de cremação do pai.


Ele fugiu, escondeu-se na floresta e levou-se mais de dois dias para encontrarem o menino que passou os dias chorando embaixo de uma árvore.


Sitara levou-o para casa e tentou falar com ele, mas não conseguiu.

Então, ela resolveu contar sobre as visitas dos Devas do passado e de como ela e Ravi eram abençoados de ter um filho que os próprios Devam abençoaram...

 

Manish ouviu e só disse uma frase:

- Mãe, porque Shiva não me ouve? Será que o tio estava certo e sou um menino mal?

 

Sitara respondeu:

- Nunca digas essa bobagem...

- Tu és um bom menino e ótimo filho...

 

Manish nada mais falou. Em sua mente só passava a promessa que havia feito ao pai e ele a cumpriria.

 

Os anos foram passando e Manish cresceu.

Sem dúvidas, ele era especial.

Com 14 anos começou a comandar a loja dos pais que prosperou muito. Agora, ele era o rapaz mais desejado da cidade.

Manish tinha longos cabelos cacheados, corpo forte e muita força.

Vivia fazendo disputa de força e sempre ganhava.

Todas as jovens moças de Varanasi o desejavam, mas ele só tinha olhos para Chandra que também crescera.  Sem dúvidas era tão bela que ninguém mais importava-se por ela ser Dalit.

 

Aditi e Sitara sempre conversavam sobre um dia os filhos se casarem.

 

Um dia, chegaram notícias ruins á Aditi.
Seu velho pai que morava em outra cidade bem distante, estava doente e precisava de ajuda.
Como Aditi já estava com idade avançada não poderia ir, mas pediu a Chandra que fosse.
Manish não gostou muito da ideia, mas não disse nada...
Chandra, embora contra vontade foi cuidar do avô.
E Manish ficou muito triste...

Anos se passaram e Manish completou dezoito anos.
Chandra nunca mais voltou e isso o deixava triste, mas a vida tinha de seguir...

Em seu décimo oitavo aniversário, Manish participaria da competição anual de corrida.

Todos viam como certa a vitória do jovem, até mesmo ele.
Para garantir, ele foi á caverna que muitos anos seu pai lhe mostrara e pediu a Shiva que o fizesse campeão, certo de que Shiva o ajudaria.
Então, ele não quis treinar como os outros.
Nas horas de folga do serviço na loja, ele ia até onde seus adversários treinavam e ficava olhando-os e rindo pelo esforço que faziam.

Todos os dias ele via algo muito estranho:
Um yogi[1] todos os dias no mesmo horário vinha correndo pela estrada gritando:
- Se eu não correr, nunca vou chegar...
- Se não praticar, nunca vou ganhar...

No dia da corrida, Manish estava tão certo da vitória que comentou com a mãe que iria desfilar pela cidade após vencer.
 Sitara apenas olhou e balançou a cabeça.

A corrida tinha oito quilômetros e o percurso era conhecido por todos.
Ela se iniciava em uma das saídas da cidade, dava uma volta por parte da floresta, passando por riachos e caminhos tortuosos cheios de pedras...
Depois, era uma linha reta de dois quilômetros de volta á cidade.
A chegada ficava no mesmo ponto de partida.

Eram duas horas da tarde.

Na linha de partida estavam Manish e outros corredores. Todos estavam concentrados, menos Manish que acenava para a multidão, como se fosse o grande herói de todos e as jovens moças deliravam ao vê-lo.
Um dos homens mais velhos da cidade fez um breve discurso e mandou todos os corredores ficarem em posição. Logo em seguida, deu o sinal de partida.
Todos saíram correndo com toda força, menos Manish e o rival que ele achava mais fraco.
Em uma demonstração de autoconfiança, Manish corria e acenava para a multidão. Já o rival, começou a correr mais rápido e passou Manish.
Nesse momento, Manish apertou o passo e ficou ao lado do rival.  Sem perceber, ambos começara a ditar a velocidade da provar.

Um a um dos concorrentes ele ia passando.

Já pela metade da prova, os dois estavam em primeiro lugar.
Restando somente dois quilômetros para o fim, Manish já estava cansado. Ele olhava o rival que tanto desdenhava e vi que ele estava inteiro. Mentalmente ele começou a “apelar” a Shiva para que o Maha Deva o ajudasse, mas nada aconteceu.
Seu corpo estava pesado. O rival então “apertou o passo” e foi se distanciando cada vez mais de Manish. De repente, todos outros competidores também o passaram.
Mesmo á distância, Manish pôde ver que o competidor mais fraco ganhou a corrida.

Ele ficou tão irritado que não continuou a correr. Correu mato adentro e muito nervoso socou árvores gritando:
- Por que não me ajudaste Maha Deva?
- Será que não mereço seu auxílio?
Nesse momento, correndo pela floresta, estava aquele yogi que ele sempre via gritando.

Manish tentou ouvi-lo melhor:
- Quem pelo esforço e dedicação vence é bem visto por Brahman
- Quem se dedica é filho dos Devas, mas aquele que nada faz, os Devas apenas olham e esperam que ele se volte para o esforço e dedicação...

Manish odiou ouvir isso. Abaixou-se, pegou uma pedra para jogar no Yogi mas esse sumiu em meio á floresta. Após horas de nervosismo, Manish voltou para casa e foi deitar-se. Sua mãe tentou conversar com ele, mas ele não quis dizer nada.
Depois dessa grande perda nos quatro anos seguintes Manish dedicou-se ao treino e venceu as quatro corridas que disputou. Só parou de correr porque o tempo que tinha de se dedicar a loja era cada vez maior.

Sitara e Aditi já eram senhoras e Manish não as deixou trabalhar mais.

Quando estava com vinte e dois anos, Manish, vendo que Chandra não voltava, resolveu que se ela não voltasse em um ano, ele arranjaria outra mulher para casar.
Aditi pediu a Manish que o enviasse para ficar junto a Chandra e ele assim o fez. Pediu a Aditi que dissesse a Chandra que ele iria casar com outra pessoa caso ela não voltasse em um ano. 

No mesmo ano, Sitara ficou doente.

Na primavera daquele mesmo ano, a mais bela flor de Varanasi abriu-se para a vida em outros mundo. Sitara, a mais dedicada das mulheres, partiu do corpo para ficar junto a seu amado Ravi.

As últimas palavras de Sitara a Manish foram:
- Nunca esqueça-se de seu pai ou de mim...
- E mais importante: Nunca esqueça que você é abençoado pelos Devas.
- Eles sempre estará com você, apesar de muitas vezes não os entendermos. Eles sempre nos ajudam...
Após a cerimônia de cremação da mãe, Manish estava sozinho no mundo.
Ele contratou algumas pessoas para trabalhar na loja...

Após um ano sem a resposta de Chandra, ele foi procurar uma noiva.

Nenhuma mulher de Varanasi agradava Manish. Era certo que seu coração pertencia á Chandra, mas, ficar sozinho era muito ruim.
Certo dia, andando pela cidade, viu uma jovem de vinte e um anos conversando com outra muito bonita. Como ele era muito altivo[2] foi conversar com a garota.

Após muito falar, ele resolveu que essa jovem seria sua esposa.
Ele foi até os pais dela e ofereceu um dote. Eles prontamente aceitaram pois era muito agradável ter uma filha casada com um dos melhores “partidos” de Varanasi.
Transcorrido dois meses, Manish casou-se com a jovem Rania.

O casamento não era um paraíso.

Apesar de gostar da esposa, Manish nunca a tocou pois toda vez que tentava consumar o casamento, em sua mente vinha à imagem de Chandra.
 Rania respeitava Manish, mas também não o amava.
O que Manish não sabia, era que Rania amava um jovem de outra cidade que conhecera quando seus pais foram visitar parentes.

Após um ano de casados, Manish fez um pedido a Shiva:

- “Maha Deva, vos peço que Rania nunca me traia. Vos peço, Senhor, que ela seja sempre minha companheira...”

 Dois dias depois, Manish voltou ao trabalho e não encontrou Rania, mas achou uma carta que ela escrevera. Ele então, leu em voz alta:

(Clique na carta para ler em tamanho maior)


  Manish ficou estático. Apenas deixou correr uma lágrima e disse olhando para cima:
- Obrigado Maha Deva, mais uma vez o Senhor me deixou na mão...



[1] Um yogi ou yogin (em Sânscrito: yogini é uma forma feminina para o termo) é um termo que caracteriza os praticantes de yoga. Esta designação é mais usada para praticantes avançados. A palavra "yoga" em si - oriunda da raiz Sânscrita yuj ("unir") - é normalmente traduzida como '"união" ou "integração" e pode ser entendida como a união com o Divino, ou integração do corpo, mente, e alma.
[2] Adj. Brioso, orgulhoso, altaneiro, arrogante: um homem altivo, no andar e no falar.

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