domingo, 23 de dezembro de 2012

As Sete Respostas de Shiva - Última Parte


Manish ficou perplexo...

Como um ato tão bobo do passado poderia gerar um problema tão grave?

As palavras de seu pai ecoaram em sua cabeça:
“Não se vence preconceitos com pedras, e sim, com ações...”

Shiva retomou a palavra dizendo:
Não temas, o karma dele está traçado. Dentro de alguns dias ele e o falso brâmane serão cercados pelo Shakya que voltou com cinquenta guerreiros para levar Johar para ser julgado como ladrão na Terra deles.

Manish então falou:
Senhor, é uma pena eu só entender agora que estou morto...

Shiva levantou-se, foi até Manish, abraçou-o e disse:
Não estás morto, Manish...
- Fui eu quem mandou o tigre , o macaco e a serpente...
- Era para você não tomar a água envenenada...
- A picada da Naja era para deixar-te livre da carne, para chegares até a mim.

Agora, meu filho, ouça bem minhas palavras:
Chandra precisa de você...
- Desde que o avô dela morreu ela foi escravizada pelo tio que a fez trabalhar, enquanto rouba o dinheiro dela e a espanca muitas vezes. Aditi morreu de desgosto ao ver isso.
- Agora, vá meu filho...
- Vá salvar sua Chandra...

Manish não teve tempo de dizer mais alguma coisa, pois voltou para o corpo imediatamente. Suas cadelas lhe lambiam o rosto.  O tigre e o macaco estavam olhando para ele enquanto a Naja encontrava-se enrolada no pescoço do macaco...

O macaco disse então:
Chega de preguiça , Manish...
- Vamos salvar sua Chandra...

Nesse momento, o macaco começou a crescer e para espanto de Manish, o macaco era o grande Deva: Hanuman

Hanumam encostou a mão nos cães e o tigre falou:
Suba em minhas costas, Manish...
- O caminho é longo...
- Devemos ir rápido...

Manish subiu nas costas de Hanuman e perguntou:
- Minhas cadelas ficarão aqui?

Hanuman respondeu:
- Não, Manish, a elas, dei poder para correrem tão rápido como eu.

Hanuman chamou seu exército de macacos e falou:
Vamos, filhos das árvores...
- Vamos salvar uma pessoa que sofre...

Hanuman começou a correr com Manish nas costas. O tigre e os macacos também o seguiam. Com o tempo, Hanuman aumentou a velocidade de tal forma que Manish só via vultos nas árvores.

Após uma hora de corrida, Hanuman parou e disse:
Chegamos, Manish. - Agora vamos procurar Chandra...

Ao caminhar pela cidade que era extremamente pobre, as pessoas se assustavam ao ver um homem andando ao lado de Hanuman. E se afastaram de medo...

Hanuman dizia:
- Não tenham medo, não sou seu inimigo.

Mesmo assim eles se esconderam...

Embora tenham procurado por Chandra, não a encontraram.

Então, Hanuman disse:
- Manish, ouça essa música, meu amigo, pois você a conhece...

Manish ouviu uma voz doce cantando um mantra de Shiva.

Manish reconheceu a voz que cantava e foi em direção a uma mulher que estava de costas sem falar nada e ele também cantou...


"Shiva, Shiva, Maha Deva, Namah Shivaya, Sadah Shiva..."

Ao virar-se, a mulher começou a chorar e falou:

-  é você, Manish?

Ele respondeu:
- Sim, sou eu, minha Chandra. Vim te buscar...

Ela respondeu:
- Não sou mais a Chandra que você conheceu... E virou-se
Ela era a mais bela mulher do mundo para Manish, mas... Estava cega...

Manish tentou segurar o choro, mas não conseguiu. Chandra levantou-se, e tateando para achar Manish, abraçou-o.

Manish então falou:
- Nada importa meu amor... Vou te levar embora desse inferno...
Seus olhos podem não enxergar, mas seu coração verá o amor e dedicação que terei com você...

Nesse momento, o tio de Chandra surgiu gritando:
- Largue minha sobrinha, ela tem de trabalhar...

Chandra agarrou-se em Manish pedindo para ele leva-la embora, tentando evitar que Manish atacasse fisicamente seu tio.

Manish falou:
- Você, homem, não merece ter esse tesouro...
- Não merece nem sequer estar vivo e vou leva-la. Se você tentar me impedir terá sérios problemas...

Hanuman e seu exército cercaram o tio que, por ser muito covarde, ajoelhou-se pedindo desculpas.

Manish não ligou. Pegou Chandra no colo e saiu da cidade.
O tio de Chandra ficou no chão chorando. Uma das cadelas foi até ele e o mordeu no braço.
Manish carregou Chandra no colo até Varanasi e ela dormiu toda a viagem.
Hanuman, o tigre e os cães foram junto protegendo o casal... 

No caminho de volta, Manish passou frente á caverna de Shiva.
Chegando na entrada da caverna ele pensou em sua vida...Lembrou-se dos pais, de Aditi e notou que sua vida foi muito diferente das vidas dessas pessoas...
Então, agradeceu ao Maha Deva por tudo...

Nesse momento, frente á caverna aparecerem seus pais em espírito com uma luz magnífica...
Junto a eles estava Aditi...

Atrás deles estava sentado o Maha Deva que falou:
- Sete perguntas tu me fizeste, meu filho...
- Sete respostas você obteve, mas faltou uma pergunta. Eu a responderei sem você perguntar...

Nesse momento, uma luz forte saiu do Maha Deva, envolvendo Manish e Chandra que acordou e viu o rosto de Manish.

Chandra falou:
- Eu estou enxergando você, meu amado...

Manish olhou Chandra que estava com os olhos normais e rapidamente tentou ver seus pais, Aditi e o Maha Deva, mas eles sumiram.

Então, Manish pensou o seguinte:
- Aquele que recebe e vê a luz de Maha Deva, jamais ficará cego...

Hanuman sumiu...
Só ficaram Manish, Chandra e as duas cadelas.
Manish soltou Chandra que ficou de pé e eles se beijaram.

Ali iniciava a história de Manish e Chandra.
Um casal que tinha duas formidáveis cadelas e que eram devotos de Shiva...
Como seus pais, eles viveram uma vida de mais bela evolução...

Não existe até hoje história mais linda do que a de Ravi, Sitara , Manish e Chandra.

E...como eu sei dessa história?

Digamos que do topo das árvores um macaco pode ver todas as histórias do mundo...

sábado, 8 de dezembro de 2012

As Sete Respostas de Shiva - Parte VII


Shiva fechou o terceiro olho e Manish ficou á sua frente.

Shiva então falou:
- Seu pai era um homem formidável, ele tinha uma grande compreensão das leis de Brahman e com a resposta sincera que deu, quebrou o karma que tinha com seu tio. Ele chorou pois temia que seu tio não descobrisse a verdade.

- Seu pai amava muito seu tio, mas nada mais podia fazer por ele...

- Com esse ato, ele libertou-se totalmente da roda de sansara a atingiu o moksha, a sublime compreensão de todas as coisas, sendo assim não poderia mais ficar no corpo.

Você pediu-me para não deixa-lo sofrer. Ao mesmo tempo seu pai pediu-me que o deixasse viver um pouco mais para poder mais uma vez passear com você e abraçar sua mãe...

Como você me pediu, tirei as dores e sofrimentos físicos de seu pai mas fiz isso pois ele tinha méritos suficientes para merecê-lo.

Ao mesmo tempo, segurei-o no corpo mais alguns dias pois ele tinha também méritos necessários.
Se você tivesse me pedido para não deixa-lo morrer, aí sim, você poderia me cobrar, pois nem mesmo eu vou contra as leis de Brahman.

Jamais faria seu pai viver em forma física se ele a transcendeu.
Isso, seria um afronto ás leis de Brahman e grande sofrimento a seu pai.

Manish sentiu-se envergonhado e percebeu o quanto fora egoísta em querer o pai sempre junto a ele e quanto isso poderia ter feito mal a uma das pessoas que ele mais amava no mundo.

Ele chorou, e entendeu que o Maha Deva fez o melhor possível para seu pai e que ele realmente não sabia nada...

Como a vontade de aprender estava crescendo dentro de Manish, ele perguntou:
Maha Deva, aos dezoito anos pedi ao Senhor que me fizesse campeão da competição em Varanasi mas o Senhor não me ajudou...Por quê?

Shiva mudou o semblante. Parecia irritado, mas falou:
- Antes de qualquer coisa, considero competições para ver quem é melhor, abominável...
- Todos somos iguais e irmãos...

- Essas competições são invenções humanas para que um irmão se sobreponha a outro, portanto, é uma coisa terrível a meus olhos...

Você pediu minha ajuda e eu o ajudei mesmo contra gosto á minha forma, não como você queria...
Lembra-se do Yogi que passava correndo por você?

Manish lembrou do Yogi e balançou a cabeça em afirmação.

Então, Shiva mudou sua aparência. Transformou-se no Yogi que Manish vira várias vezes naquela época e falou:

- Você e todos participantes me pediram a vitória mas eu não ajudei ninguém dando força ou fazendo correr mais rápido. Isso seria injusto com os outros e não admito injustiças...

- Eu, na forma de Yogi, dizia a cada competidor palavras de incentivo ou dava dicas do que devia fazer.

A você, disse várias vezes:
- Se eu não correr, nunca vou chegar...
- Se não praticar, nunca vou ganhar...

Disse isso pois você nada fazia para ganhar...
Não treinava e ficava apenas contando com minha ajuda... 

Além de me pedir ajuda para algo inútil ainda queria que corresse por você...
De todos os corredores, o único que entendeu minhas palavras, foi o que venceu...

Toda vez que ele se cansava, eu passava por ele e dizia:
- Se desistir nunca vou ganhar...todo esforço leva a uma vitória...

Por esforço próprio ele ganhou.
Diferente dos outros, apenas ele me deu ouvidos. E, no final, ainda te falei uma coisa que fez você finalmente entender que só se chega a alguma coisa por esforço próprio:

- Quem pelo esforço e dedicação vence, é bem visto por Brahman...
- Quem se dedica é filho dos Devas, mas aquele que nada faz aos Devas apenas olham e esperam que ele se volte para o esforço e dedicação...

Mesmo com raiva de mim, você entendeu o que falei e nos anos seguintes ganhou todas as competições.
Para mim, foram vitórias inúteis que só te serviam para te lavar o ego.

O Maha Deva calou-se, mas Manish fez a quarta pergunta:
- Por que o Senhor não me ajudou a ficar com Rania como pedi?

O Maha Deva abriu os olhos e falou:
- Manish, você, na verdade nunca casou-se com Rania.
- Você nunca a amou...
- A única coisa que os manteve junto foi o respeito e carinho que tinham um pelo outro.

Você pediu-me para ela nunca te trair mas você a traia todos os momentos pensando em Chandra.
Ela tentou te amar mas nunca conseguiu...

A única forma de realmente ela não te trair seria indo embora atrás de quem amava, e até hoje, diariamente ela me pede para te proteger, mandando energias positivas. Ela pode não estar perto mas nunca deixou de ser sua amiga... 

Manish concordou sinceramente com o que o Maha Deva disse e fez a quinta pergunta:
- Senhor, quando pedi um sócio honesto, porque mandou-me um sócio desonesto e mal?

Shiva então falou:
- Essa pergunta responderei junto à outra mais a frente pois ambas estão ligadas.

Manish intrigado fez outra pergunta:
- Maha Deva, eu lhe implorei na entrada de sua caverna, que me desse um amigo. Até hoje esse amigo não veio, por que Senhor?

Shiva sorriu e disse:
- Te dei duas amigas. As mais fiéis e doces amigas que poderias ter. Suas duas cadelas não são suas melhores amigas desde que apareceram?

Manish sorriu e disse:
- Sim, Senhor, são mesmo. Eu as amo e elas me fazem feliz...
- Perdoe esse idiota que só agora percebe o grande presente que o Senhor me deu...

Shiva ainda sorrindo falou:
- Não há o que perdoar. Apenas o que se compreender, e você compreendeu.

Nesse momento Manish ajoelhou-se em frente ao Maha Deva e disse:
- Agora entendo...
- Tu és meu pai e mestre...

Manish levantou-se e pela primeira vez chamou Shiva de pai.

Pai, a próxima pergunta é sobre eu perder os cavalos para o brâmane, mas, como entendi, o Senhor abomina competição e considera todos iguais.
Vejo que fui bobo por fazer aquela aposta.
Mas, se o Senhor quiser falar algo sobre isso, ouvirei com a maior atenção...

O Maha Deva olhou para Parvati e começou a falar:
- Só existe Brahman, o único. 

Eu, Vishnu e Brahma somos as três grandes qualidades dele manifestando-se.
- Brahma é a criação
- Vishnu é a Manutenção
- E eu sou a transformação
- Somos três em um...

Nesse momento, o corpo de Shiva transformou-se e ele tinha as cabeças de Brahma, Vishnu e Shiva.
As três cabeças falaram juntas:

- Pela glória de Brahman nos manifestamos...
- Somos seres que geram um só...
- A qualidade de Brahman...
- Três unidades, uma só função. Três faces, uma só visão. Somos todos um só Brahman...

O corpo de Shiva voltou ao normal e o Maha Deva continuou a falar:
- Aquele brâmane, na verdade, nunca foi um sacerdote...
- na verdade, ele era um ladrão e usou um troque para fazer os cavalos irem até ele...

- Ele tinha nas mãos um pedaço de mel endurecido. Quando ele passou a mão na cabeça dos cavalos os fez sentirem o cheiro e, como os cavalos adoram mel, inclinaram-se a segui-lo.
Ele te enganou...

- Não foi Vishnu quem fez o milagre. O milagre na verdade foi um “golpe sujo” de um ladrão...

E continuou:
Agora, responderei sobre seu “sócio”, pois esse ladrão foi contratado por Johar para te roubar e para lhe dar o cantil de água que estava envenenada...

Na época, apareci em sonho para um devoto meu no reino dos Shakyas. 
Ele era da casa real.

Eu disse a ele que deveria procurar-te em Varanasi e tornar-se seu sócio.
Na viagem, ele foi assaltado por Johar, que lhe roubou as roupas e o colar com Trishula.

Perguntando ao Shakya o que esse fazia em Varanasi, ele respondeu que seria seu sócio.
Johar, então, teve a ideia de tentar ser seu sócio também, mas esperou para ver se Shakya teria sorte.
Caso isso acontecesse, ele mataria Shakya e tempos depois procurar-te-ia para ser seu sócio.

Mas...você, Manish, com seu preconceito esse ato abominável afastou o Shakya de ser sócio,mas não pense que esse ato detestável seu salvo a vida do Shakya,na verdade Johar nunca poderia matar ele ,pois eu pessoalmente o impediria,pois esse Shakya era um homem honrado e justo e não merecia ser morto por um bandido,mas ser assaltado era uma paga carmica que ele ainda possuía,e Johar o fez pagar esse carma...

Na verdade, Manish, ele queria te matar para ficar com suas duas lojas mas você descobriu antes.

Sabe por que ele queria tanto te destruir?
Manish disse que não sabia...

Shiva então disse:
- Johar era o menino que você jogou a pedra quando era garoto.
- Desde aquela época ele quer te matar...

Manish ficou perplexo...

- Como um ato tão bobo do passado poderia gerar um problema tão grave?

As palavras de seu pai ecoaram em sua cabeça:
“Não se vence preconceitos com pedras, e sim, com ações...”

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

As Sete Respostas de Shiva - Parte VI


Após dois dias de viagem, Manish chegou a um povoado.

Na entrada, havia uma grande estátua de Vishnu[1].
Ele saudou o Vasudeva e entrou no povoado.
Lá chegando, procurou uma hospedagem mas não encontrou...
Resolveu então continuar a viagem.

Saindo do povoado, um homem o chamou.
Era um homem de meia idade com trajes de sacerdote. Ele cumprimentou-o.

O homem então falou:
- Gostei muito dos seus cavalos. Gostaria de tê-los.

Manish disse:
- Sábio, infelizmente não posso vender ou dar a você. Preciso muito deles...

O homem então disse:
- Meu jovem, vais negar um pedido de um brâmane que está a serviço do Senhor Vishnu?

Manish desceu do cavalo e disse:
- Nesse momento, tenho certeza que nem o Senhor precisa mais desses cavalos que eu...

O Brâmane ficou nervoso:
- Tu és um infiel. Não respeita os Devas e seus representantes mas tenho uma proposta a você...
- Pelo jeito tu és um Shivaista. Proponho disputarmos os cavalos através da força dos Devas.
- Como sei que Vishnu é mais forte que Shiva, confio na minha aposta...

Manish tinha um dilema: Apesar de não ter mais fé em Shiva ele jamais poderia deixar que o tão amado Deva de seus pais fosse humilhado...

E aceitou a proposta...

Era muito simples a aposta:
Os homens deixariam os cavalos parados, iriam até eles, passariam a mão na cabeça deles, depois se afastariam e os chamariam.

Seria considerado vencedor o homem que atraísse os dois cavalos para perto de si...

Manish pediu ao Maha Deva para ajuda-lo.

Passou a mão na cabeça dos cavalos e ficou longe, depois, o brâmane fez o mesmo.
Ambos já distante, chamaram os cavalos e para desespero de Manish, eles foram para perto de brâmane.

O Brâmane então falou:
- Boa viagem, infiel...mas tome esse cantil como símbolo de benevolência de Vishnu...

Muito nervoso, Manish pegou o cantil, saiu pela estrada xingando Shiva e dizendo:
- Shiva, você nunca gostou de mim, mas dessa vez se deixou humilhar para me deixar sem cavalos.

- Muito obrigado Maha Deva, muito mesmo...

Manish seguiu a estrada.

Mal sabia ele que estava entrando na famosa “Gruta dos Tigres”. 
Quando ele parou para beber água do cantil, ouviu um grande barulho atrás dele. 
Virou-se e um enorme tigre o olhava.

Sem pensar, ele saiu correndo...
O tigre também foi atrás...

Quanto mais ele corria, mais o tigre se aproximava.

Então, ele subiu em uma árvore e o tigre ficou olhando-o.

Manish não sabia que tigres também sobem em árvores...

Quando o tigre começou a subir na árvores, Manish percebeu que estava perdido...e começou a chorar copiosamente, quando ouviu uma voz dizendo:
- Pode parar fera, seu trabalho já está feito...

Ele viu o tigre descer da árvore e recuar.
De repente, frente a ele, pendurado de cabeça para baixo, surgiu um grande macaco branco e falou:

- Não chores Manish...
- Não é esse tigre que vai te matar mas...essa Naja[2] atrás de você vai te picar... 

Manish virou-se, mas era tarde demais. 
Ele tomou o “bote[3]” da Naja que estava no galho junto a ele.
Após ser picado, Manish caiu da árvore.
Tentou levantar-se mas não conseguiu...

Ele estava caindo com o corpo virado para a esquerda enquanto via o tigre sentado e olhando.
Tentou pegar o cantil de água mas o macaco que descera da árvore lhe roubou o cantil.
E pior, a Naja que o picou estava agora enrolada no pescoço do macaco.

O macaco foi até o tigre, passou a mão na cabeça dele, virou-se e falou com Manish:
- Manish, boa viagem...
- Eu estarei aqui esperando a sua volta...
-Em breve suas duas cadelas estarão aqui conosco...

Manish quase sem forças queria xingar o macaco mas desmaiou.

Já desmaiado, estranhou a ver seu corpo no chão.
Viu também o macaco com o tigre e sentiu que algo puxava seu corpo.

Em sua mente apenas um pensamento passava:
- Tenho certeza que estou morto...

De repente ele saiu voando em alta velocidade.
Pôde ver florestas, cidades e vilarejos do alto...
Viu montanhas do Himalaia e desmaiou novamente...

Quando ele acordou, estava em uma estrada coberta de neve em linha reta...
Nessa estrada, dos dois lados estavam yogis.
No final dela, ele podia ver alguém sentado que emitia uma energia tão grande que ele desconfiou ser de um Deva...

Do “nada”, ele foi pego pelos braços...
Quando olhou, eram os filhos de Maha Deva: Ganesha e Skanda.

Amparando-o, Ganesha falou:
- Manish, vamos levantar...
- O Grande Pai o aguarda...
- Vá até ele, meu irmão...

Manish estava, ao mesmo tempo, assustado e feliz.
Finalmente, conheceria Shiva...
 Mas também temia, pois por muitas vezes havia desrespeitado o Maha Deva.

Após levantar-se, seguiu em direção ao pilar de energia. 
Conforme andava, era saudado pelos yogis.
A cada passo que dava em direção a Shiva , parecia que um a um de seus medos, rancores e ódios eram retirados dele...

Finalmente, estava sentindo-se em paz e acompanhado.

Suas tristezas haviam convertidos em alegria.

Ele também viu: Siddhi e Valli.
Finalmente sua visão contemplou Shiva.
Ao lado dele , estava à linda Devi Parvati que ele já conhecera.

Shiva estava de olhos fechados, sentado como um yogi em uma pedra.
Em seu pescoço estava uma Naja viva e Malas.
Sua mão direita segurava o Trishula.
Shiva tinha longos cabelos negros, pele bronzeada e sem dúvidas era o mais lindo ser que Manish já vira.

Ao se aproximar da pedra, Manish ajoelhou-se e fez reverência ao Maha Deva.

O Maha Deva, sem abrir os olhos falou:
- Manish, não sejas hipócrita diante de mim...
- Seus sentimentos para comigo não estão refletidos nesse seu ato de me reverenciar...

- Nenhum ser da criação deve fazer isso na minha frente pois todos são Brahman em potencial...

- todas as coisas que existem e não existem, são formas do Grande Criador, portanto, iguais a mim, a única coisa que exijo a minha frente é sinceridade e respeito...

Manish levantou-se e falou:
- Maha Deva, perdoe meu mau jeito...mas o Senhor que tudo vê sabe que minhas dúvidas sobre o Senhor me abalam o coração.

Não consigo como meus pais, ver o Senhor como um grande amigo ou pai...

- Essas são as palavras sinceras que me vêm à mente...

Nesse momento, Shiva abriu os olhos mas não abriu o terceiro olho que ficava entre as sobrancelhas.
Esse olho ele só abre em ocasiões específicas , e essa, não era uma dessas situações...

Shiva falou:
- Nunca deixe de ser sincero, mesmo que isso de início possa machucar alguém...
- Somente sendo sincero tu irás expor suas ideias, vontades, e, se as pessoas forem sinceras também, sua sinceridade não as vai abalar...

E continuou:
 - Manish, sei que quer me fazer várias perguntas...
- Faça e todas serão respondidas com sinceridade por mim...

Manish, sentindo-se seguro falou:
- Meus pais sempre me falaram que o Senhor era nosso protetor.
- Sempre me falaram de sua benevolência...

- Me disseram também que o Senhor junto com Senhor Vishnu e Senhor Brahman me abençoaram para nascer, mas eu não sinto isso...

- E pior... Várias vezes clamei o Senhor em minha vida e não tive respostas. 
O Senhor nunca me ouviu ou nunca ligou para mim...

- Dessa forma, gostaria de saber por que em certas ocasiões o Senhor não me ajudou.

Quando eu tinha oito anos, houve o problema na loja de meu pai que quase fechou. Por contratar minha amada tia Aditi, A cidade vivia de preconceitos contra os Dalits.

Todos pararam de comprar na loja, então, clamei ao Senhor, mas o Senhor não me ajudou.

No final, foram os Asuras que fizeram o que tanto pedi.

Porque o Senhor não me ajudou naquela época?
Shiva levantou-se, foi até um dos yagis e perguntou-lhe:
Qual é o meu nome, meu filho?

O yogi respondeu:
- Grande Mestre, tu possuis vários nomes.
- O nome que me perguntas é Bhuteswara, ou Senhor dos Bhuts.

Shiva voltou os olhos para Manish e disse:
- Ou seja, Manish, Senhor dos maus espíritos. Em toda hierarquia da criação existem bons e maus espíritos. Dessa forma, existem Asuras bons e Asuras maus, mas todos são parte de Brahman.

- Dessa forma, sejam criaturas más ou boas, eu cuido...

- Como poderíamos abandonar um irmão porque esse errou?

- Se os bons abandonassem os maus, como os maus poderiam se tornar bons?

Se os bons recusarem-se a ajudar os maus é porque não são tão bons assim...

- Os dois Asuras são meus discípulos e filhos.
- Eu os mandei ajudar seu pai Ravi que nunca abandonou as pessoas por serem más...
- Seu pai também ajudou-os mostrando a eles que nem todos os seres humanos viram-se contra eles.
- Naquele dia, tanto seu pai quanto os Asuras aprenderam, e hoje, você também aprende sobre aquela situação...

Sentindo-se mal, Manish abaixou a cabeça...

Shiva falou:
- Levante a cabeça, Manish...
- Nunca é tarde para se aprender...
- Agora, continue a perguntar...

Manish voltou a falar:
- Senhor, na mesma época meu pai ficou doente e implorei ao Senhor que o curasse que não o deixasse sofrer, mas o Senhor nada fez... 
E eu perdi meu amado pai.

- Por que o Senhor deixou meu pai morrer?
- Será que minha fé não era forte o suficiente para merecer o que pedi?

- Diga-me, Maha Deva, porque não ajudou meu pai?

Shiva voltou a sentar-se e falou:
- Manish, a lei de Brahman é a lei de causa e efeito...
- Toda ação tem uma reação...

- Todos os seres abaixo de Brahman estão sob essa lei. Seja eu ou seu pai Ravi. O Karma é muito mal interpretado pelos seres, mas ele é tão positivo quanto negativo...

- Seu pai havia cumprido seu karma e, mais que isso... Ele e sua mãe superaram as expectativas...

- Além de cumprirem seus karmas atingiram o moksha, se libertando da roda de sansara.

- Seu pai devia morrer no dia em que você brigou com aqueles meninos, mas para você entender melhor, vamos lá ver o que aconteceu aquele dia:

Shiva abriu o terceiro olho e Manish se viu em frente à casa de seus pais quando era criança.

Ele então, viu o pai saindo de casa logo cedo e indo ao templo.
Lá chegando, ele foi falar ao irmão Ragi para saber por que o filho dele não queria mais ir ao templo.

Ragi com seu rompante de sábio, doutor dos textos sagrados, contou toda história do dia anterior. 

Falou sobre Manish tocar em Chandra e falou também que ele era um menino de má índole, entre outros insultos para Chandra e Manish...

Nesse momento, Shiva disse:
- Seu pai, estava quase atingindo o Moksha, mas ainda faltava uma pendência kármica. Era justamente com seu tio Ragi.

Em outra vida eles brigaram. Seu tio agrediu e machucou fisicamente seu pai. Isso gerou um karma terrível para ambos.

Nesse momento que vemos agora, ou seu pai quebraria esse círculo karmático ou o fazia girar mais ainda lhe causando vidas futuras...

Agora vejamos o que seu pai fez:

Manish voltou a olhar para seu pai e pôde ouvi-lo falar:
- Irmão, você pode ser doutor dos textos sagrados...
- Você pode ser grande instrutor dos Vedas, mas meu filho Manish sabe mais de ser humano e Divino que você...
- Meu filho, que agora você desdenha, foi mais fiel ás leis de Brahman que você, e, para minha felicidade, meu irmão amado...

 Hoje, vejo que você nada sabe de ser um representante dos Devas na Terra.


- Agora vou sair meu irmão... Mas desejo do fundo do meu coração que os Devas abram seus olhos um dia.
- Sempre te amarei meu irmão, mas hoje, eu me afasto de você...
Não por mim, mas pelo filho que você tanto desdenhou na minha frente...

Ravi saiu do templo e chorou ao longo do caminho...
Shiva fechou o terceiro olho e Manish ficou á sua frente.




[1] Juntamente com Xiva (Shiva) e Brama (Brahma) formam a trimúrti, a trindade hindu, na qual Vixnu é o deus responsável pela manutenção do universo.
[2] Naja é um género de serpentes da família Elapidae (cobras) Francine, natural do Sul da Ásia e da África
[3] Ataque.