quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Pérolas Negras





Lá estão elas, as raras Pérolas negras no fundo do oceano das grandes mentiras, 
Perdidas no abismo de suas inconsciências, dentro de suas ostras medonhas, presas ao passado,
 Sem poder ver um futuro, carregam o martírio da eterna solidão...

São a beleza que nenhum olho viu. Quem poderia as ver em sua rara beleza senão um olhar atento de um de um velho mergulhador de mares lacrimosos?
Sois vós que me encanta, sois vós, minhas sereias sem canto, olhos perdidos dentro de um mundo obscuro...

Ao vê-las sempre me pergunto:
Quem as fez?
Quem foi que as criou?
Quem foi que as transformou de grão de areia em lágrimas tão tenras da natureza?
Quem foi que lhes disse que sua beleza é perecível?
Quem foi o ignorante que a chamou de inacessível?
Quais foram seus pecados para que se escondam da luz de um novo amanhecer?

Vós que eternamente contemplam a face do invisível e que se sufocam na mais profunda perdição, por que se deixam levar pelas correntes marítimas da ilusão?

Minhas queridas Negras Madres Pérolas, por que fazem da ostra sua mais forte prisão?
Por que deixam que o mundo tão sem cor fique corrente de sua aparição?
Muitos dizem que vocês são um erro natural, afinal,  de um pequeno grão de areia que entra na ostra vocês surgem, mas eu digo:

Vocês não são erro, muito menos algo a ser desmerecido!
Vocês são encanto, magia, beleza fundamental aos olhos da noite...
Nunca foram adorno, e sim, aquilo que têm que ser adornado, se mostrem ao mundo como são:

Sua rara beleza é para poucos, para aqueles que têm olho supra-humano...

Não se escondam do mundo, não se deixem matar pelas opiniões alheias, sejam o que são:

A mais pura beleza das sombras...

Vocês, que tanto tempo levaram para se transformar de grão de areia na mais bela das jóias, tem muito que ensinar e também muito a descobrir...
Deixem que esse velho pescador de ilusões lhes mostre um mundo novo...
O mundo da superfície, o mundo onde a aparência é tão importante quanto uma vírgula perdida, em um texto...

Venham belas pérolas, para o meu mundo e se deleitem da minha mais pura amplidão...
Assim como vocês já foram habitantes de uma ostra, agora sou habitante dos jardins das emoções...
Não tenham medo de me seguir... O pior que posso lhes fazer é deixar vocês sorrindo com minha mais profunda alegria de quem já foi noite, e agora é dia e amanhã será eterno...

Vós que sempre foram às grandes companheiras desse distinto poeta, vós que em forma de lágrimas sempre enfeitarão a minha face brônzea, sabiamente foi dito:

Não De pérolas a porcos...

Então, não vertam essas jóias a quem não merece, não dê pérolas aos ignorantes, ou melhor, não contem sobre suas vidas ao ajuntamento de ratos que vos cerca...

Sejam belas em esplendor,mas fechadas ás visões de inveja que vos atormentam,seja sim, a glória do poeta desconhecido...
Sejam a expressão do ardor de uma vida cheia de labor...

Ó minhas doces pérolas negras, vós que não me deixam,
Nunca saibam que a vocês guardo minha fidelidade de guardião das lágrimas mais profundas de quem as verteu, e nesse instante só me resta dizer uma última coisa:

Pérolas negras que vêm a mim no amanhecer saibam que vou até vocês ao anoitecer...
Dê vossa última lágrima de fé em busca de perdão de um pecado que nunca foi cometido.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A Grande Figueira





Lá no meio da grande floresta, bem na clareira central, estava a maior de todas as árvores.
A Grande Figueira, com suas grandes copas majestosas e seus galhos imponentes.
Seu grande tronco mais parecia uma pequena montanha de tão largo e alto que era...

Suas frutas eram as mais belas e mais doces de toda a região.
Nos galhos mais altos havia vários ninhos, desde ninhos de coruja á ninhos de pequenos pássaros.
Nos troncos de cima a abaixo, podia se ver as formigas incansáveis em seu trabalho de limpar a Figueira.
Sob suas sombras uma grande gama de animais brincava: do servo selvagem ao pequeno besouro.
Suas frutas, além de belas eram docíssimas, o que atraía as abelhas.

Assim era a vida da Grande Figueira, cheia de cores e alegria.

Ela era única.
Não havia outra igual em qualquer lugar daquela floresta ou em qualquer parte do mundo. Única em esplendor, única e imponência e em majestade.

A rainha das árvores, soberana em seu estado mágico.
Certa vez, em uma primavera, um lobo que passava pela floresta se encantou com a majestosa árvore e resolveu dormir sob sua sombra e por lá ficou.  Não desgrudava da árvore, afinal, ali ele tinha de tudo: comida, abrigo e companhia. Só saia mesmo para ir ao pequeno riacho próximo dali para tomar água, mas sempre voltava para perto da figueira.

Certamente, a figueira também gostou da companhia do lobo, pois podia se ver os galhos se juntarem nas épocas de chuva para cobrir o lobo que se sentia bem protegido e também bem acompanhado.

O tempo foi passando, os meses, os anos também, e a vida era sempre assim...

Um grande inverno chegou.
Até mesmo a Grande Figueira sentiu suas folhas caírem.
Suas frutas sumiram e seus galhos começaram a apodrecer.

Todos os animais foram embora, menos o lobo que resolveu ficar junto de quem lhe havia dado tanto.  Ele saía para caçar ás vezes, mas voltava e se deitava ao pé da grande árvore.

Esse ano o inverno foi maior que o normal.
Só terminou dois dias antes do início do verão, mas o verão também foi demais, muito quente, sem chuvas.

A árvore não conseguia se recuperar, mesmo assim o lobo ficou ali a seu lado...

No meio do verão, a árvore se preocupou por que o lobo estava ficando fraco e muito frágil, então, os restos de galho que ainda tinha, ela girou,pôs sobre o lobo e começou a soltá-los sobre sua cabeça que a princípio não entendeu aquilo.

Com o tempo, o lobo ficou muito raivoso e achou que a árvore estava o expulsando e ofendendo. Muito bravo, ele saiu de lá e se pôs no mundo.
A árvore sentiu que o havia machucado, mas era o que ela tinha que fazer para o bem do lobinho.
Assim, ele ficou triste...

Talvez ela esperasse que não a deixasse nunca...
Já o lobo, andou por dias, até que achou um rio, tomou muita água e ficou olhando a própria imagem nas águas.  Percebeu então, que estava magro, com os pelos caindo, mas o que lhe veio à cabeça foi:
“A árvore está pior que eu, não posso deixá-la agora!”

Então, ele encheu a boca com água, pôs-se a correr por horas, até chegar perto da árvore, que quando o viu se alegrou, mas também ficou brava.

Ele chegou balançando o rabo encostou-se à árvore e jogou para fora a água sobre as raízes da árvore, que ao sentir a água viu algo mais naquele gesto.

O lobo uivou para a árvore dizendo que ia buscar mais água. Assim foi por um dia e uma noite. O lobo ia ao rio, voltava com a boca cheia de água e jogava nas raízes da árvore, mas o esforço foi muito.
Ele caiu exausto aos pés da árvore e dormiu por dias...

Após sete dias ele acordou, abriu os olhos e viu tudo verde e pássaros cantando.
Então, ele se levantou,olhou a árvore, e lá estava ela mais linda do que nunca...
Cheia de vida e majestade.
Depois disso, nunca mais o lobo saiu dali, a árvore nunca mais ficou sem brilho e ambos se tornaram um só espírito:

O Espírito que dá vida á Floresta, a teimosia do Lobo e a doce proteção da árvore...