Lá
no meio da grande floresta, bem na clareira central, estava a maior de todas as
árvores.
A
Grande Figueira, com suas grandes copas majestosas e seus galhos imponentes.
Seu
grande tronco mais parecia uma pequena montanha de tão largo e alto que era...
Suas
frutas eram as mais belas e mais doces de toda a região.
Nos
galhos mais altos havia vários ninhos, desde ninhos de coruja á ninhos de pequenos
pássaros.
Nos
troncos de cima a abaixo, podia se ver as formigas incansáveis em seu trabalho de
limpar a Figueira.
Sob
suas sombras uma grande gama de animais brincava: do servo selvagem ao pequeno
besouro.
Suas
frutas, além de belas eram docíssimas, o que atraía as abelhas.
Assim
era a vida da Grande Figueira, cheia de cores e alegria.
Ela
era única.
Não
havia outra igual em qualquer lugar daquela floresta ou em qualquer parte do
mundo. Única em esplendor, única e imponência e em majestade.
A
rainha das árvores, soberana em seu estado mágico.
Certa
vez, em uma primavera, um lobo que passava pela floresta se encantou com a
majestosa árvore e resolveu dormir sob sua sombra e por lá ficou. Não desgrudava da árvore, afinal, ali ele
tinha de tudo: comida, abrigo e companhia. Só saia mesmo para ir ao pequeno
riacho próximo dali para tomar água, mas sempre voltava para perto da figueira.
Certamente, a
figueira também gostou da companhia do lobo, pois podia se ver os galhos se juntarem
nas épocas de chuva para cobrir o lobo que se sentia bem protegido e também bem
acompanhado.
O tempo foi passando, os
meses, os anos também, e a vida era sempre assim...
Um grande inverno chegou.
Até
mesmo a Grande Figueira sentiu suas folhas caírem.
Suas
frutas sumiram e seus galhos começaram a apodrecer.
Todos os animais foram
embora, menos o lobo que resolveu ficar junto de quem lhe havia
dado tanto. Ele saía para caçar ás vezes,
mas voltava e se deitava ao pé da grande árvore.
Esse ano o
inverno foi maior que o normal.
Só
terminou dois dias antes do início do verão, mas o verão também foi demais, muito
quente, sem chuvas.
A árvore
não conseguia se recuperar, mesmo assim o lobo ficou ali a seu lado...
No meio do verão, a árvore
se preocupou por que o lobo estava ficando fraco e muito frágil, então, os
restos de galho que ainda tinha, ela girou,pôs sobre o lobo e começou a
soltá-los sobre sua cabeça que a princípio não entendeu aquilo.
Com o tempo, o
lobo ficou muito raivoso e achou que a árvore estava o expulsando e ofendendo. Muito
bravo, ele saiu de lá e se pôs no mundo.
A
árvore sentiu que o havia machucado, mas era o que ela tinha que fazer para o bem
do lobinho.
Assim,
ele ficou triste...
Talvez
ela esperasse que não a deixasse nunca...
Já
o lobo, andou por dias, até que achou um rio, tomou muita água e ficou olhando
a própria imagem nas águas. Percebeu
então, que estava magro, com os pelos caindo, mas o que lhe veio à cabeça foi:
“A árvore
está pior que eu, não posso deixá-la agora!”
Então, ele encheu a boca com
água, pôs-se a correr por horas, até chegar perto da árvore, que
quando o viu se alegrou, mas também ficou brava.
Ele chegou
balançando o rabo encostou-se à árvore e jogou para fora a água sobre as raízes
da árvore, que ao sentir a água viu algo mais naquele gesto.
O lobo uivou para a árvore
dizendo que ia buscar mais água. Assim foi por um dia e uma noite. O lobo ia ao
rio, voltava com a boca cheia de água e jogava nas raízes da árvore, mas o
esforço foi muito.
Ele
caiu exausto aos pés da árvore e dormiu por dias...
Após sete dias ele acordou,
abriu os olhos e viu tudo verde e pássaros cantando.
Então,
ele se levantou,olhou a árvore, e lá estava ela mais linda do que nunca...
Cheia
de vida e majestade.
Depois disso, nunca mais o
lobo saiu dali, a árvore nunca mais ficou sem brilho e ambos
se tornaram um só espírito:
O
Espírito que dá vida á Floresta, a teimosia do Lobo e a doce proteção da árvore...
Somente grandes forças da natureza e grandes espíritos são capazes de ter ações totalmente altruístas, sacrificando sua própria existência a favor do outro. Mas ainda há muitas árvores que nos cobrem com seus galhos e lobos que carregam água na boca para matar nossa sede. Por vezes nos sentimos ofendidos por não compreender que uma ação altruísta não deve ser vista como uma dependência doentia por parte do outro que a recebe. Dependência é sinal de ignorância, comodismo e falta de esforço não de incapacidade de se fazer.
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