Manish
nunca aceitou a morte do pai.
Pela segunda
vez na vida, sentiu-se abandonado por Shiva.
Manish não
foi ás cerimônias de cremação do pai.
Ele fugiu,
escondeu-se na floresta e levou-se mais de dois dias para encontrarem o menino que
passou os dias chorando embaixo de uma árvore.
Sitara
levou-o para casa e tentou falar com ele, mas não conseguiu.
Então, ela
resolveu contar sobre as visitas dos Devas do passado e de como ela e Ravi eram
abençoados de ter um filho que os próprios Devam abençoaram...
Manish ouviu e só disse uma frase:
- Mãe,
porque Shiva não me ouve? Será que o tio estava certo e sou um menino mal?
Sitara respondeu:
- Nunca
digas essa bobagem...
- Tu és um
bom menino e ótimo filho...
Manish
nada mais falou. Em sua mente só passava a promessa que havia feito ao pai e
ele a cumpriria.
Os anos
foram passando e Manish cresceu.
Sem dúvidas,
ele era especial.
Com 14 anos
começou a comandar a loja dos pais que prosperou muito. Agora, ele era o rapaz
mais desejado da cidade.
Manish tinha
longos cabelos cacheados, corpo forte e muita força.
Vivia
fazendo disputa de força e sempre ganhava.
Todas as
jovens moças de Varanasi o desejavam, mas ele só tinha olhos para Chandra que
também crescera. Sem dúvidas era tão
bela que ninguém mais importava-se por ela ser Dalit.
Aditi
e Sitara sempre conversavam sobre um dia os filhos se casarem.
Um
dia, chegaram notícias ruins á Aditi.
Seu
velho pai que morava em outra cidade bem distante, estava doente e precisava de
ajuda.
Como
Aditi já estava com idade avançada não poderia ir, mas pediu a Chandra que fosse.
Manish
não gostou muito da ideia, mas não disse nada...
Chandra,
embora contra vontade foi cuidar do avô.
E
Manish ficou muito triste...
Anos
se passaram e Manish completou dezoito anos.
Chandra
nunca mais voltou e isso o deixava triste, mas a vida tinha de seguir...
Em seu décimo oitavo aniversário, Manish participaria da competição anual
de corrida.
Todos
viam como certa a vitória do jovem, até mesmo ele.
Para
garantir, ele foi á caverna que muitos anos seu pai lhe mostrara e pediu a
Shiva que o fizesse campeão, certo de que Shiva o ajudaria.
Então,
ele não quis treinar como os outros.
Nas
horas de folga do serviço na loja, ele ia até onde seus adversários treinavam e
ficava olhando-os e rindo pelo esforço que faziam.
Todos
os dias ele via algo muito estranho:
Um yogi[1]
todos os dias no mesmo horário vinha correndo pela estrada gritando:
- Se
eu não correr, nunca vou chegar...
- Se
não praticar, nunca vou ganhar...
No
dia da corrida, Manish estava tão certo da vitória que comentou com a mãe que
iria desfilar pela cidade após vencer.
Sitara
apenas olhou e balançou a cabeça.
A
corrida tinha oito quilômetros e o percurso era conhecido por todos.
Ela
se iniciava em uma das saídas da cidade, dava uma volta por parte da floresta,
passando por riachos e caminhos tortuosos cheios de pedras...
Depois,
era uma linha reta de dois quilômetros de volta á cidade.
A
chegada ficava no mesmo ponto de partida.
Eram
duas horas da tarde.
Na linha de partida estavam Manish e outros corredores.
Todos estavam concentrados, menos Manish que acenava para a multidão, como se
fosse o grande herói de todos e as jovens moças deliravam ao vê-lo.
Um dos homens mais velhos da cidade fez um breve discurso
e mandou todos os corredores ficarem em posição. Logo em seguida, deu o sinal
de partida.
Todos saíram correndo com toda força, menos Manish e o
rival que ele achava mais fraco.
Em uma demonstração de autoconfiança, Manish corria e
acenava para a multidão. Já o rival, começou a correr mais rápido e passou
Manish.
Nesse momento, Manish apertou o passo e ficou ao lado do
rival. Sem perceber, ambos começara a
ditar a velocidade da provar.
Um
a um dos concorrentes ele ia passando.
Já
pela metade da prova, os dois estavam em primeiro lugar.
Restando
somente dois quilômetros para o fim, Manish já estava cansado. Ele olhava o
rival que tanto desdenhava e vi que ele estava inteiro. Mentalmente ele começou
a “apelar” a Shiva para que o Maha Deva o ajudasse, mas nada aconteceu.
Seu
corpo estava pesado. O rival então “apertou o passo” e foi se distanciando cada
vez mais de Manish. De repente, todos outros competidores também o passaram.
Mesmo
á distância, Manish pôde ver que o competidor mais fraco ganhou a corrida.
Ele ficou tão irritado que não continuou
a correr. Correu mato adentro e muito nervoso socou árvores gritando:
- Por
que não me ajudaste Maha Deva?
-
Será que não mereço seu auxílio?
Nesse
momento, correndo pela floresta, estava aquele yogi que ele sempre via
gritando.
Manish tentou ouvi-lo melhor:
-
Quem pelo esforço e dedicação vence é bem visto por Brahman
-
Quem se dedica é filho dos Devas, mas aquele que nada faz, os Devas apenas
olham e esperam que ele se volte para o esforço e dedicação...
Manish odiou ouvir isso. Abaixou-se, pegou uma pedra para
jogar no Yogi mas esse sumiu em meio á floresta. Após horas de nervosismo,
Manish voltou para casa e foi deitar-se. Sua mãe tentou conversar com ele, mas
ele não quis dizer nada.
Depois dessa grande perda nos quatro anos seguintes
Manish dedicou-se ao treino e venceu as quatro corridas que disputou. Só parou
de correr porque o tempo que tinha de se dedicar a loja era cada vez maior.
Sitara
e Aditi já eram senhoras e Manish não as deixou trabalhar mais.
Quando
estava com vinte e dois anos, Manish, vendo que Chandra não voltava, resolveu
que se ela não voltasse em um ano, ele arranjaria outra mulher para casar.
Aditi
pediu a Manish que o enviasse para ficar junto a Chandra e ele assim o fez.
Pediu a Aditi que dissesse a Chandra que ele iria casar com outra pessoa caso
ela não voltasse em um ano.
No
mesmo ano, Sitara ficou doente.
Na
primavera daquele mesmo ano, a mais bela flor de Varanasi abriu-se para a vida
em outros mundo. Sitara, a mais dedicada das mulheres, partiu do corpo para
ficar junto a seu amado Ravi.
As últimas palavras de Sitara a Manish
foram:
-
Nunca esqueça-se de seu pai ou de mim...
- E
mais importante: Nunca esqueça que você é abençoado pelos Devas.
-
Eles sempre estará com você, apesar de muitas vezes não os entendermos. Eles
sempre nos ajudam...
Após
a cerimônia de cremação da mãe, Manish estava sozinho no mundo.
Ele
contratou algumas pessoas para trabalhar na loja...
Após
um ano sem a resposta de Chandra, ele foi procurar uma noiva.
Nenhuma
mulher de Varanasi agradava Manish. Era certo que seu coração pertencia á
Chandra, mas, ficar sozinho era muito ruim.
Certo
dia, andando pela cidade, viu uma jovem de vinte e um anos conversando com outra
muito bonita. Como ele era muito altivo[2]
foi conversar com a garota.
Após
muito falar, ele resolveu que essa jovem seria sua esposa.
Ele
foi até os pais dela e ofereceu um dote. Eles prontamente aceitaram pois era
muito agradável ter uma filha casada com um dos melhores “partidos” de
Varanasi.
Transcorrido
dois meses, Manish casou-se com a jovem Rania.
O
casamento não era um paraíso.
Apesar
de gostar da esposa, Manish nunca a tocou pois toda vez que tentava consumar o
casamento, em sua mente vinha à imagem de Chandra.
Rania
respeitava Manish, mas também não o amava.
O
que Manish não sabia, era que Rania amava um jovem de outra cidade que conhecera
quando seus pais foram visitar parentes.
Após um ano de casados, Manish fez um
pedido a Shiva:
- “Maha
Deva, vos peço que Rania nunca me traia. Vos peço, Senhor, que ela seja sempre
minha companheira...”
Dois dias depois,
Manish voltou ao trabalho e não encontrou Rania, mas achou uma carta que ela
escrevera. Ele então, leu em voz alta:
|
Manish ficou estático. Apenas deixou
correr uma lágrima e disse olhando para cima:
-
Obrigado Maha Deva, mais uma vez o Senhor me deixou na mão...
[1] Um yogi ou yogin (em Sânscrito: yogini é uma
forma feminina para o termo) é um termo que caracteriza os praticantes de yoga. Esta designação é
mais usada para praticantes avançados. A palavra "yoga" em si -
oriunda da raiz Sânscrita yuj ("unir")
- é normalmente traduzida como '"união" ou "integração" e
pode ser entendida como a união com o Divino, ou integração do corpo, mente, e
alma.
[2]
Adj. Brioso, orgulhoso, altaneiro, arrogante: um homem altivo, no andar e no
falar.
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