No dia seguinte, Ravi e Sitara pegaram o pano que Skanda segurou e começaram a fazer as roupas para seu filho.
Com o tempo, a barriga de Sitara
foi crescendo e a cidade se alegrou, pois o bondoso casal tinha sido abençoado
com o tão esperado bebê.
Próximo ao nascimento, eles conversaram sobre qual deveria ser o nome
da criança.
Ravi propunha que fosse Manish Gana Mahesh.
Sitara sugeria que o nome de Ravi também fizesse parte do nome do
filho.
Eles entraram em acordo e esse foi o nome do menino:
Manish
(mente equilibrada)
Ravi
Gana (os
celestes em homenagem aos filhos de Shiva que os visitaram)
Mahesh (Um
dos nomes de Shiva)
No dia
10 do mês Agrahayana[1]·,
Ravi estava trabalhando sozinho na loja de tecidos, pois Sitara havia ficado
deitada por sentir-se indisposta.
Por
volta das 10 horas da manhã, três homens entraram na loja.
Ravi notou que esses homens eram diferentes.
Um deles tinha aparência de um Senhor de sessenta anos, com um corpo forte, longos cabelos e barba branca, uma bela túnica feita de seda amarela com bordados.
Os outros dois pareciam ter a mesma idade e pareciam gêmeos.
Ambos tinham cabelos compridos e negros e usavam
grandes malas (cordão de contas) no pescoço.
A única coisa que os diferenciavam era a roupa.
Um deles usava uma túnica esverdeada.
Outro, apenas uma espécie de saiote.
Eles
entraram e com um sinal de mãos cumprimentaram Ravi, depois, foram olhar os
tecidos e conversar entre si.
Ravi sentiu uma grande paz com os visitantes e concluiu que eles eram brâmanes.
Com isto,
os deixou á vontade dentro da loja e ficou apenas ouvindo a conversa deles.
O
homem mais velho fez uma pergunta ao homem de túnica esverdeada:
- Meu sábio irmão, me diga: é
possível um homem que tenha um carma ruim livrar-se desse carma sem ter de pagá-lo?
O
homem de túnica esverdeada olhou para cima e respondeu:
- Tudo se manifesta na criação pela benevolência de Brahman.
Dos Asuras[2] aos Devas[3], tudo contém dentro de si o princípio único e Divino do Grande Criador, portanto, se o homem com muita dedicação e coragem fizer com que os polos negativos e positivos dentro de si igualarem, atingirá o Moksha[4], e se torna uno com Brahman.
Com isso, se libertará da ilusão do bem e do mal.
O homem mais velho sorriu com a resposta
e olhou para o terceiro homem.
Nesse momento, ambos perguntaram ao terceiro homem, a seguinte questão:
- E você, meu nobre irmão?
Acha que é possível um homem de carma ruim,
fazer desse carma, um carma bom?
O terceiro sábio olhou para os dois e disse:
- Irmãos, porque me perguntam algo que já sabem a resposta?
Bem sabeis
o que direi, mas responderei por respeito a vocês...
- É muito difícil um homem atingir o Moksha, mais difícil ainda é ele entender além das Mayas da vida humana.
Mas, aquele que com sincero
arrependimento e vontade verdadeira quiser corrigir seus erros, poderá sem
dúvidas, através do exercício do amor á todas as coisas de Brahman e dedicação
á Obra Divina, chegar a um estagio tão grandes de pureza que seus erros sejam
compensados pela bondade em seu coração...
E continuou:
- Mesmo sem atingir o Moksha ele se libertará de seus erros e abrirá
espaço para uma nova vida, onde poderá de fato atingir o verdadeiro e real
Moksha.
E prosseguiu. Agora irmãos, é minha vez de
perguntar:
- Qual
a diferença entre adoração cega e respeito aos Devas?
O mais velho logo respondeu:
- As adorações partem de princípios errados. Um homem adora um Deva por
querer favores.
- Uma mulher adora um Deva por medo.
- Uma criança adora um Deva porque foi-lhe imposto desde cedo.
- O Senhor adora um Deva porque não sabe fazer outra coisa.
- Já um sábio, ao invés de adorar um Deva, o respeita, o ama e entende
que os Devas são irmãos em Brahman e está zelando diariamente pela evolução de
todos...
E continuou:
- Quem adora... dificilmente respeita, mas, quem respeita, ao contrário de
adorar, valoriza seus Divinos Auxiliadores...
O homem de túnica esverdeada
tomou a palavra e disse:
- Toda adoração parte de um ato interno de ignorância, seja uma adoração que no fundo é feita para se obter favores ou uma adoração instigada pelo medo de não agradar os Devas.
No geral, se adora porque não se tem
capacidade de viver uma vida plena sem ajuda.
Por total falta de conhecimento, os seres humanos fazem dos Devas suas
bengalas de vida...
- Depois, se os Devas não fazem o que eles querem, são vistos como
“maus” ou “não existem”. Para grande maioria dos seres, um Deva só serve se der
o que eles querem, mas, como sabemos, os Devas fazem o melhor para todos e
jamais servem ás vontades egoístas de cada ser...
O mais velho olhou para Ravi e sorriu.
Ravi nesse momento sentiu-se invadido por uma compreensão tão grande que seus olhos encheram-se de lágrimas...
Mas, não de tristeza...
Ele percebera
que estava diante de seres de sabedoria sem limites, mas ficou calado, pois
sabia que o homem que fez essa segunda pergunta ainda ia falar.
Ele estava certo.
O sábio que fez a pergunta,
disse:
- Irmãos, ambas as respostas estão carregadas de sabedoria, mas lhe
faltam alguns detalhes de grande importância que vou expor agora...
- Seja aqui em nossa Terra ou em qualquer parte do mundo, os Devas vem
e vão em forma de avataras[5]e
ensinam que todos são iguais e irmãos em Brahman.
- Em forma sacrifical mostram que o amor é a chave para tudo, mas são
destratados e condenados... E pior... Depois que voltam ao mundo dos Devas,
seus discípulos humanos fazem da sabedoria que aprenderam com o avatara, mais uma
forma de separar os seres...
- Os ensinamentos viram dogmas[6]
e a sabedoria vira grilhões de escravidão mental, mas os Devas em sua suprema
benevolência continuam a descer á Terra para tentar mudar as coisas.
- Muitos sábios do passado perguntaram-se porque os Devas não obrigam a
humanidade a ser sábia e melhorar-se, mas a resposta sempre foi óbvia.
“Os Devas jamais obrigaram as pessoas a nada.
Muito pelo contrário...
Por verem os humanos como filhos e crianças, eles dão liberdade para que cada
um escolha entre o bem e o mal mesmo que isso os faça sofrer como Devas ou como
avataras em Terra”.
Mas, essa conversa deve acabar, afinal,
não foi para isso que viemos a essa loja.
Ao falar isso, o homem sentou-se no chão com as pernas cruzadas como yogi[7], e os outros dois fizeram o mesmo, permanecendo calados.
Ravi aguardou para ver
se alguém falaria algo, mas ninguém falou mais nada.
Ravi aproximou-se deles e disse:
- Os
brâmanes[8]
precisam de algo?
O mais velho falou:
- Ravi, meu
filho... Traga sua esposa Sitara até nós... Estamos aqui para abençoar ela e
seu filho...
Ravi
foi pego de surpresa.
Como aqueles homens que ele nunca vira na cidade ou em qualquer lugar,
sabiam seu nome e o nome de Sitara?
Como sabiam que ela estava grávida?
O homem de túnica esverdeada
falou:
- Somos
Trimúrti, a tripla manifestação de Brahman.
- Eu sou Vishnu,
o mais velho de nós é Brahma
e o irmão sem camisa é seu amado mestre
Shiva...
Ravi
caiu ao chão e prostrou-se diante deles.
Shiva
então disse:
- Levante Ravi...
Nunca abaixe-se diante de nós... Seu coração é puro e merecedor de nossa
visita. Agora vá e busque Sitara...
Ravi foi até
a casa e chamou Sitara, mas não disse nada...
Ele e
Sitara, ao entrar na loja, viram os três grandes Devas emitir energias de seus
corpos.
Sitara ficou
muito feliz, era a segunda vez em sua vida que podia estar junto a seus amados
e divinos mestres.
Ela fez o sinal de que se prostraria, mas Brahma falou:
- Sitara,
como seu marido, seu coração é puro... Não se abaixe... Estamos aqui para dar
as três bênçãos a seu filho que virá ao mundo...
Brahma foi em direção a Sitara, colocou a mão sobre sua
barriga e disse:
- A você,
criança, dou o corpo para andar e evoluir como nosso filho...
Depois, veio Vishnu e disse:
- A você, criança, dou a alma, para que lhe
sustente em sua jornada de evolução...
Por fim, Shiva colocou a mão na barriga de Sitara e
falou:
- Criança,
fruto do amor de dois seres de coração puro... A você, dou o espírito e a mente
para que possas evoluir e tornar-se uno com nosso pai Brahman...
- Que sua
vida seja uma lição a todos os homens...
Os
três Devas abraçaram Ravi e Sitara, despediram-se e sumiram no ar...
Sete dias
após a visita dos grandes Devas, Sitara entrou em trabalho de parto.
Exatamente
ao meio dia do dia 17 do Agrahayana,
Manish Ravi Gana Mahesh
Nasceu...
Foi
o dia mais feliz na vida do casal que tanto se amava...
[2] Inicialmente
eles são considerados seres poderosos regentes dos princípios morais
[5]Avatara, ou a encarnação da Divindade, descende do reinado divino pela
criação e manutenção da manifestação em um corpo material.
[8] O termo
brâmane deriva do latim brachmani
(ou bragmani), que, por sua vez,
provém do grego brâmanes, adaptação do termo sânscrito védico brāhmaṇa, que significa “aquele que é versado no
conhecimento de Brahman - a alma cósmica”.
maravilhoso ^^
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